3.5.2021
"Concordo com os ateus em muitas coisas, muitas vezes em quase tudo... Muitas vezes também me sinto oprimido pelo silêncio de Deus e pela sensação do seu afastamento. Percebo que a natureza ambivalente do mundo e dos inúmeros paradoxos da vida pode dar origem a expressões tais. No entanto, a paciência é aquilo que eu considero a principal diferença entre fé e ateísmo" (Tomás Halík).
Este livro extraordinário impressiona pela delicada atenção a quem se conserva a distância. Halík ocupa uma galeria de escritores composta por personalidades como G. K. Chesterton, C. S. Lewis, Thomas Merton e Henri Nouwen, todos com a rara combinação de inteligência e compromisso de não trair nunca o gene que nos une a todos, crentes e não crentes, como filhos de Deus. Em vez de mapa do céu, o Evangelho é gramática que interpreta o mundo. É assim que Halík explica o Cristianismo: como hermenêutica das luzes e sombras da vida, que tem na paciência sua grande regra. Paciência que não é virtude moral, mas atitude intelectual: perante os paradoxos da vida há que suster o juízo e dar tempo para que a verdade aí escondida se possa revelar. O Jesus de Halík é um "mestre do paradoxo". E o Cristianismo, o lugar onde o dramático paradoxo do Deus revelado e oculto se esclarece, embora não se dissolva. Ele sugere ser o Cristianismo a perspectiva que possibilita viver o paradoxo. Não promete eliminá-lo; apenas, com paciência, percorrer, com todos os Zaqueus, essa dura e incontornável faceta da vida.